Escrito por Zita Rocha
Não eram estes os loucos anos 20 que esperávamos. Entre a pandemia global e a ameaça de uma terceira guerra mundial, é natural que surja um misto de emoções com as quais é preciso lidar.
Enquanto o mundo planeava os próximos passos na recuperação de um período de grande angústia social e económica, após dois anos de perdas, incerteza e medo, somos confrontados com notícias de maior sofrimento. Ainda que não se compare, claro, à dor sentida pelo povo ucraniano, não podemos ignorar a inquietação que esta nova ameaça nos causa. Queria então partilhar alguns dos meus sentimentos, na esperança que se reveja neles e que este texto a ajude a encontrar alguma paz interior.
MEDO
Entre notícias que auguram a terceira guerra mundial, que nos alertam para uma ameaça nuclear sempre presente, como não sentir medo pelo nosso futuro e pelo futuro da nossa família? Enquanto olhamos para os nossos filhos em plena idade de serviço militar, é natural empatizar com o desespero das famílias ucranianas ao mesmo tempo que pedimos a Deus não ter de passar pelo mesmo. O que me tem distraído desta ansiedade é a manutenção da minha rotina normal. Ainda que não possa controlar a política mundial, traz-me conforto saber que ainda estou em controlo da minha vida pessoal e familiar. Não só faço um esforço por preservar o meu dia-a-dia habitual, como tenho criado novas oportunidades para passar mais tempo com a minha família e amigas. Não sei o que nos reserva o futuro, portanto estou a fazer tudo o que posso para estimar o presente.
PESSIMISMO
É natural que sinta que nada tem solução duradoura no mundo, que tudo acaba mal. É verdade que estamos a testemunhar a História a repetir-se da pior forma possível sem que nada possamos fazer quanto a isso. No entanto, é importante estarmos de espírito aberto para receber o que de bom a vida também tem. Não escolhemos a realidade em que vivemos, mas podemos cercar-nos de pessoas e lembranças positivas. Ainda que seja importante estarmos informados, permita-se também ao alheamento. Sabemos o que está a acontecer, sabemos das imagens de horror e das histórias de partir o coração, mas não temos de estar continuamente expostas a estas. Poupe-se a essa forma de automutilação emocional e passe mais tempo a cuidar de si, seja através de desporto, meditação ou de um hobby.
CULPA
Não, não temos culpa daquilo que está a acontecer. Ainda assim, sinto-me muitas vezes culpada por poder viver a minha vida normal enquanto outros sofrem tanto. Há uma sensação de absurdez que acompanha a minha preocupação com coisas rotineiras ou até superficiais enquanto outros, aqui tão perto, se preocupam com questões de vida ou de morte. Quando confrontados com a devastação absoluta de vidas humanas, o que é que não parece fútil? Eu digo-vos: compaixão, amor e solidariedade. Então, prefiro colocar esses sentimentos ao serviço daqueles que precisam verdadeiramente da minha ajuda. Voluntario o meu tempo e os meus esforços para sentir que estou a contribuir para fazer a diferença. É tudo o que podemos fazer. De resto, continuar a viver a nossa vida é a melhor forma de resistência perante aqueles que a procuram destruir.
TAGS
#slowliving #guerra #ucrania #medo #ansiedade #pessimismo #culpa #stress #estrategias #coping